São Paulo — Um dos símbolos do varejo fast fashion, a rede de lojas Forever 21, com dívidas que podem chegar a US$ 10 bilhões, acionou nesta segunda-feira (30/9) o capítulo 11 da lei americana de falências, que equivale à recuperação judicial no Brasil. Com mais de 800 lojas nos Estados Unidos, Europa, Ásia e América Latina, especialmente no Brasil, a companhia terá de fechar cerca de 350 unidades, das quais 178 no mercado americano.

De acordo com a vice-presidente, Linda Chang, a reestruturação com amparo da Justiça será a alternativa para honrar os compromissos com credores e afastar a possibilidade de falência. “O financiamento de JPMorgan e TPG Sixth Street Partners vai suprir a Forever 21 com o capital necessário para empreender mudanças críticas nos Estados Unidos e no exterior, revitalizar nossa marca e impulsionar nosso crescimento, permitindo que possamos honrar nossas obrigações com clientes, fornecedores e empregados”, afirmou a executiva, em comunicado.

As notícias de que a Forever 21 estava à beira do colapso ganharam corpo nos últimos meses, reduzindo ainda mais a capacidade de captação de recursos no mercado. O cofundador e controlador da empresa, o sul-coreano Do Won Chang, vinha negociando pessoalmente as dívidas, mas não conseguiu fechar um acordo com as administradoras de shoppings Simon Property Group e a Brookfield Property Partners LP.

“O problema é que a Forever 21 demorou demais para fazer os ajustes necessários, diante de um varejo que vinha encolhendo ano a ano, especialmente no mercado americano”, diz Maximiliano Tozzini Bavaresco, CEO da Sonne Consultoria, especializada em recuperação de empresas. Em 2017 (último dado disponível), o faturamento da rede foi de US$ 3,4 bilhões (R$ 14,1 bilhões). Atualmente o grupo emprega mais de 30 mil trabalhadores.

O varejo físico está, claramente, enfrentando um dos mais desafiadores ciclos dos últimos 100 anos. Nos Estados Unidos, 6 mil pontos de venda foram fechados em 2017. No ano seguinte, subiu para 9 mil unidades. Para 2019, estima-se o fechamento de 12 mil lojas, afetadas principalmente pelo avanço do e-commerce. “Enquanto o comportamento de compra mudou rapidamente, a empresa dimensionou mal o varejo on-line, criando uma dependência muito grande das lojas físicas”, acrescentou Bavaresco.

Os detalhes do plano de reestruturação da Forever 21 ainda não foram revelados, mas segundo reportagem da Bloomberg, o plano prevê o fechamento da maioria dos pontos de venda na Ásia e na Europa. Na América Latina, a intenção é manter a operação, mas não está claro se a rede vai fechar alguma de suas lojas no Brasil, onde iniciou as atividades em 2014.

Desde aquele ano, a rede abriu 15 unidades no país, mas já vinha freando sua expansão por aqui. “Ao concentrar seus negócios nas Américas, a empresa reduz a complexidade de sua operação, diminuindo custos logísticos, por exemplo”, afirmou o especialista da Sonne.

A Forever 21 se tornou um ícone entre os jovens americanos no início dos anos 2000, com uma proposta de oferecer roupas similares às de grandes marcas de moda a preços acessíveis – modelo de negócio que ganhou o apelido de fast fashion.

Disputando com empresas, como a holandesa H&M e a espanhola Zara, a companhia começou uma expansão agressiva no setor de roupa masculina e calçados após a crise econômica de 2008. No meio do caminho, as empresas sofreram acusações de explorar trabalho escravo para conseguir manter preços baixos, o que resultou em boicotes por parte dos consumidores. Muitos especialistas, no entanto, atribuem as dificuldades das empresas aos altos custos de aluguel e à forte concorrência do comércio eletrônico.

 

Disponível em:<https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2019/10/01/internas_economia,792889/gigante-da-moda-forever-21-apela-a-recuperacao-judicial-para-nao-falir.shtml>. Acesso em 20 de Junho de 2022